Cerca de 80% das vítimas no Ceará eram jovens de 12 a 29 anos
“Ó os homi!”, disse o homem jovem, de 20 anos, preto, no Ceará. Ouviu a família, a menina, a vizinha e a favela em mais uma visita do zebrão. O medo atinge de forma desigual a população, escancarando uma ação policial ancorada na política de segurança pública que negligencia os dados e justifica a letalidade como controle dos territórios. E nesse contexto, é a população negra, sobretudo os jovens, de 18 a 29 anos, os mais vitimados. Mesmo com o percentual significativo de vítimas sem informação de raça/cor (63,9%), mais de 88,7% das vítimas com esse dado eram negras.
O descaso com a juventude negra parece fazer parte do plano de governo. Promessas de preservação à vida são feitas, não cumpridas, e a contrapartida é fortalecer dinâmicas que se contrapõem à proposta de segurança comunitária. Enquanto isso, jovens periféricos tentam construir estratégias criativas de manutenção e valorização da vida de forma independente. Mas não sem enfrentar as balas da polícia. E sem apoio do Estado, que emite nota de esclarecimento corroborando ação violenta e tratando como caso isolado. Assim, o número de pessoas negras vitimadas pela letalidade policial foi oito vezes maior do que de pessoas brancas.
As 147 mortes no Ceará devem ser mais do que suficientes para o governo do estado rever sua responsabilidade e refazer os planos a partir do compromisso com a prevenção. Cabe também ao Ministério Público fiscalizar e cobrar a mudança dessa realidade que perdura. Há uma contradição em querer enfrentar a violação de direitos da população cearense e não alterar a realidade de mortes decorrentes da intervenção do Estado, principalmente em relação à juventude negra. Os dados de 2023 apresentam variação, mas não a diminuição da política ostensiva e letal que atinge as periferias.
Número e proporção de mortes decorrentes da intervenção do Estado por faixa etária – Ceará – 2023
Fonte: SSPDS-CE | Elaboração: Rede de Observatórios da Segurança
Ranking dos seis municípios com mais mortes decorrentes da intervenção do Estado por cor ou raça – Ceará
Fonte: SSPDS-CE | Elaboração: Rede de Observatórios da Segurança
*Soma de pretos e pardos conforme o critério estabelecido pelo IBGE
**Não Informados