Elas Vivem: um caminho de luta
A cada 24 horas, 13 mulheres foram vítimas de violência em 2024
- São 4.181 vítimas registradas em 2024, um aumento de 12,4% em relação a 2023;
- 531 casos de feminicídio nos nove estados monitorados pela Rede, um a cada 17h;
- Aumento de 22,1% dos homicídios (excetuando Amazonas);
- 70,0% dos feminicídios foram cometidos por companheiros e ex-companheiros;
- 12 vítimas de transfeminicídio;
- No Amazonas, 84,2% das vítimas de violência sexual tinha de 0 a 17 anos;
- Pernambuco lidera em casos de mortes de mulheres (feminicídio, transfeminicídio e homicídio) no Nordeste, com 167 vítimas;
- Bahia apresenta redução de 30,1% em comparação ao ano anterior;
- Com 1.177 casos, São Paulo é o único estado entre os monitorados que registra acima de mil eventos de violência;
- Maranhão tem aumento alarmante de 87,1% nas violências contra mulheres;
- Rio de Janeiro é o estado com mais casos de violência envolvendo agentes;
- Ceará tem o maior registro de violências contra mulheres desde a criação da Rede de Observatórios;
- Piauí tem aumento de 17,8% nos eventos de violência;
- Pará tem aumento de 73,2% na violência contra mulheres.
A cada 24 horas, ao menos 13 mulheres foram vítimas de violência em 2024, nos nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança (AM, BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ, SP). O dado é revelado no novo boletim Elas Vivem: um caminho de luta, que será divulgado no dia 13 de março. Ao todo, foram registradas 4.181 mulheres vitimadas, representando um aumento de 12,4% em relação a 2023, quando Amazonas ainda não fazia parte deste monitoramento. O estado juntou-se à Rede em janeiro do ano seguinte.
A quinta edição do relatório Elas Vivem expõe a realidade em dados estatísticos e em histórias de mulheres vitimadas por uma sociedade que ainda insiste em impor controle sobre corpos e sobre vidas. Continuamos chamando atenção ano após ano para um fenômeno muito maior do que essa amostragem, que foi normalizado pela sociedade e pelo poder público como apenas mais uma pauta social. E por isso, os números seguem aumentando, enquanto as políticas de assistência estão sendo fragilizadas. Os dados monitorados apontaram 531 vítimas de feminicídios. Isso significa dizer que, a cada 17 horas, uma mulher morreu em razão do gênero. Os crimes foram cometidos por pessoas próximas em 75,3% dos casos, e se consideramos somente parceiros e ex-parceiros, foram 70,0%.
Desde 2020, a Rede de Observatórios traz à tona os números que representam as vidas de mulheres vitimizadas em uma sociedade que culturalmente as vê como inferiores, subjuga, fragiliza e violenta.
“Apesar de importantes avanços ao longo dos anos com a institucionalização dos mecanismos de proteção às mulheres, como as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), a Lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio como crime – que deveriam estar mais consolidados e dotados de melhores condições de funcionamento –, a violência contra mulheres e o feminicídio continuam sendo uma realidade alarmante em nosso país”, disse Edna Jatobá, que assina o principal texto desta edição do relatório.
A violência de gênero nos nove estados monitorados
Amazonas
O estado aparece pela primeira vez no monitoramento da Rede de Observatórios e, com 604 casos, fica atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro em números de violência, superando estados mais populosos, como Bahia e Pernambuco. Foram 33 feminicídios cometidos, 15 deles por parceiros ou ex-parceiros. Também chama atenção que 84,2% das vítimas de violência sexual tinha de 0 a 17 anos. Além disso, 97,5% não tiveram identificação de raça/cor. O estado registrou dois casos de transfeminicídio.
Bahia
O estado apresentou redução de 30,2% nos eventos de violência em um ano (de 368 para 257). Em 73,9% dos casos as vítimas não tiveram raça ou cor identificada. Entre os 46 feminicídios, 34 não tiveram essa informação. A capital baiana, Salvador, foi a que mais registrou eventos, com 68 no total. A Bahia também teve 96 mortes de mulheres (feminicídio e homicídio). Nenhum transfeminicídio foi registrado.
Ceará
Os 207 casos registrados fizeram de 2024 o pior período desde a criação da Rede de Observatórios, em 2020. Em comparação com 2023, o aumento foi de 21,1%. Os feminicídios também aumentaram: de 42 para 45. A maioria das fatalidades tinha mulheres entre 18 a 39 anos. Parceiros e ex-parceiros cometeram 56 das violências. O estado também registrou um caso de transfeminicídio.
Maranhão
O Maranhão assustadoramente cresceu quase 90% na violência de gênero. O estado passou de 195 para 365 eventos violentos – 151 deles cometidos por parceiros e ex-parceiros. Foram 54 fatalidades, sendo que 31 delas tinham entre 18 e 39 anos. Quase 100% dos crimes não tiveram identificadas raça e cor (93,7% das ocorrências).
Pará
O Pará também registrou um crescimento alarmante sobre os eventos de violência – alta de 73,2% (de 224 para 388). A motivação dos casos majoritariamente não teve registro (81,3%), mas 63,4% dos crimes foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Chama atenção também o alto índice de agressões registradas com uso de arma de fogo (96) e facas e objetos cortantes (95).
Pernambuco
O estado teve uma redução pequena, de 2,2% (de 319 para 312), mas ainda demanda bastante atenção. Pernambuco ficou atrás apenas de São Paulo nas mortes de mulheres (feminicídio, transfeminicídio e homicídio), com 167 eventos. Foi o segundo estado, entre os nove, com mais casos de feminicídio: 69 casos.
Piauí
Estado registrou crescimento de 17,8% nos crimes ligados a gênero (de 202 casos para 237). Teresina teve, disparadamente, o maior número de casos (101), seguida por Parnaíba (14). Foram 57 tentativas de feminicídios e 36 feminicídios. A exemplo de outras regiões, o Piauí também teve problemas de transparência dos dados. 52,7% ficaram sem registro de motivações e 97,2% sem os marcadores social e étnico-racial, informações necessárias à compreensão do fenômeno e para o direcionamento de políticas públicas.
Rio de Janeiro
O Rio mantém a violência de gênero em patamares preocupantes e crescentes (de 621 para 633 em um ano) – aumento de 1,9%. Do total, 197 crimes foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Feminicídios e tentativas também registraram altos números: 63 e 261, respectivamente. Chamam atenção também os 103 casos de violência sexual/estupro. Do total de 64 eventos violentos, 13 foram cometidos por agentes da segurança pública.
São Paulo
São Paulo é a única região monitorada com mais de mil eventos violentos contra mulheres em 2024. Foram 1.177 casos, um aumento de 12,4% em relação ao ano anterior. Entre as vítimas de violência com registro etário, 378 mulheres tinham de 18 a 39 anos – 422 não tiveram essa informação disponibilizada. Foram 144 feminicídios, sendo 125 cometidos por parceiros ou ex-parceiros. A capital teve os maiores números: foram 149, seguida de São José do Rio Preto, com 66, e Sorocaba, com 42.
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