Rede de Observatórios de Segurança

Mulheres negras estão na mira da guerra às drogas

location_on
event 11 de junho de 2021

Luciene Santana*

Maria Célia de Santana, de 73 anos e Viviane Soares de 40 anos foram mortas no último fim de semana. Ambas mulheres negras atingidas por balas “perdidas” em frente às suas residências, durante uma perseguição policial no bairro do Curuzu, um território simbólico da resistência negra em Salvador. A Bahia ocupa o segundo lugar no ranking de mortes em operações policiais segundo o relatório Racismo: Motor da Violência, da Rede de Observatórios da Segurança. O primeiro lugar é do Rio de Janeiro. Onde a jovem negra  Kathlen Romeu, de 24 anos, grávida de quatro meses, também foi atingida e morta por bala “perdida” durante uma operação policial.

Com o reconhecimento do racismo como fator determinante da violência constata-se que algumas pessoas têm mais probabilidade de se tornarem vítimas do que outras. Os dados publicados pelo Monitor da violência apontam que cerca de 75% das mulheres assassinadas no primeiro semestre de 2020  no Brasil são negras.

O papel da polícia, determinado no estado democrático de direito, deve ser de proteção do cidadão, preservação da ordem pública, garantia de liberdades e cumprimento da lei e constituição. Todavia, existe um elemento oculto nessa determinação, um conflito que a sociedade brasileira persiste em negar, sobre a instrumentalização da instituição policial por uma política de guerra que criminaliza a negritude e a pobreza, e alimenta uma máquina de morte que segue a pleno vapor. Na Bahia 97% das mortes em operações policiais são de pessoas negras, segundo relatório da Rede de Observatórios “A cor da violência policial”.  O que mostra que, seja na opinião pública, nos poderes judiciário, legislativo ou executivo, uma silenciosa e macabra tolerância legitimam a bala anunciada como “perdida”, para que a máquina siga funcionando, sem que na verdade tenha errado o alvo.

Além do estado constante de tensão que a população enfrenta por conta da pandemia, que já se aproxima da marca de 500 mil pessoas mortas, existe uma velha inimiga, que ronda cada periferia do país, que afeta majoritariamente pessoas negras: A “Guerra às Drogas”. É ela que vitima pessoas pretas e pobres, e segue empilhando corpos como resultado de uma política de Estado que, longe de coibir produção e consumo de substâncias, é usada como justificativa para os altos índices de violência e letalidade em zonas periféricas. 

Se a pandemia nos tem tirado o direito ao luto devido ao necessário distanciamento social, a  velocidade com que pessoas negras são mortas por esta guerra não permite baixar os punhos cerrados nem enxugar as lágrimas antes que a próxima tragédia aconteça. Lutemos por todas as vítimas de violência, pelas mulheres negras e em especial pela criança que Kathlen Romeu esperava e que teve o seu direito à vida negado pelo Estado brasileiro.

**Pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *