Abril verde: informação como forma de combate à intolerância religiosa
Por Amanda Pinheiro*
Feijoada, samba, muita devoção e agradecimentos. Essas características são típicas do famoso dia 23 de abril, o dia de São Jorge. Sem dúvidas, é um dos feriados mais aguardados pela população do Rio de Janeiro. No sincretismo religioso, na umbanda e precisamente no Rio de Janeiro, São Jorge é Ogum. Já na Bahia, o mesmo santo é o orixá Oxóssi, o grande caçador.
Em 2019, São Jorge se tornou padroeiro do Estado do Rio, ao lado de São Sebastião, devido ao grande número de devotos que carregam na vestimenta e na fé o grande amor pelo santo guerreiro. No entanto, é preciso ressaltar que, nem sempre essa diversidade religiosa é respeitada. Segundo o Disque 100, cerca de 62% das denúncias de intolerância religiosa no país são de adeptos ao candomblé ou umbanda. Mas por que isso ainda acontece se o Brasil é um estado laico? Curiosamente, mas nem tanto, as religiões mais atacadas são negras, o que reforça a ideia de que o racismo faz com que as pessoas demonizem e criminalizem tudo o que vem da cultura negra. Estamos lidando com racismo religioso.
Para tentar conter a intolerância, no Rio de Janeiro, desde 2021, durante o mês de abril, ações são realizadas para a conscientização do tema. O chamado Abril Verde vai dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) até as escolas estaduais, em que atividades podem ser feitas levando informação aos alunos. Para Ivanir dos Santos, Babalawô e interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), é preciso treinamento dos agentes públicos para identificar e combater a intolerância religiosa:
— Uma das medidas concretas e melhores é na área da educação, que é a aplicação da Lei 10.639/03, que obriga o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio. No campo do judiciário, é necessário treinamento para identificar o que é intolerância religiosa e, consequentemente, o Ministério Público oferecer a denúncia, porque há uma dificuldade em registrar esses casos — disse.
A intolerância religiosa é crime no Brasil desde 1940. O que é outro ponto a ser refletido, já que, novamente é preciso lembrar que o país é um Estado Laico e há uma grande diversidade de fé que precisa ser respeitada. Mas a sociedade civil tem feito o seu papel de conscientizar e abrir debates sobre o tema, como a Marcha Contra a Intolerância Religiosa, músicas que exaltam a religiosidade negra, o próprio carnaval, em que escolas de samba trazem enredos com esses temas, e o diálogo inter-religioso. No mais, que o dia de São Jorge e Ogum seja celebrado cada vez com mais liberdade e que a exaltação aos orixás e entidades seja mais normalizada na sociedade.
Ogunhê, Salve São Jorge.
*Amanda Pinheiro é jornalista e integra a equipe de comunicação da Rede de Observatórios da Segurança