Rede de Observatórios de Segurança

FGV traça retrato do crime e violência no Brasil

event 9 de novembro de 2023

Por Ricardo Moura*

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) traçou um panorama bastante amplo da evolução dos principais indicadores criminais no Brasil a partir da coleta e cruzamento de bases de dados diversas, como o Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM), o  Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE. Os resultados trazem diversas questões relevantes a serem pensadas por quem estuda ou se interessa pelo assunto. Seguem os principais achados:

Queda nas mortes violentas intencionais (MVI) no Brasil se consolida. A taxa por 100 mil habitantes foi reduzida de 32, em 2018, para 23, em 2022. As regiões Norte e Nordeste apresentaram queda mais acentuada no período. Trata-se de um patamar que não era visto desde meados dos anos 1990. Por sua vez, Amapá, Bahia e Amazonas registraram as maiores taxas de MVI por estado e capital no ano passado.

Em contrapartida à redução dos homicídios, a letalidade da polícia nunca esteve tão elevada, com Bahia e Rio de Janeiro despontando como os estados que mais contribuem para esse resultado. Pará, Goiás e Paraná vêm em seguida.

Crimes contra patrimônio sofrem mutações.  

Conforme o estudo da FGV, a taxa de roubo caiu 40%, enquanto a taxa de estelionato cresceu 430% no período compreendido entre 2018 e 2022. A mudança no perfil do indicador ocorreu de forma drástica durante a pandemia do Coronavírus, mas se manteve mesmo após o fim das medidas de isolamento social. Essa tendência pode ser observada em todas as regiões, mas é mais destacada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

De acordo com Joana Monteiro, coordenadora do Centro de Ciência Aplicada à Segurança da FGV, “o crime patrimonial cada vez ocorre mais no mundo virtual e menos na rua. Isso requer aparato policial bem distinto da estrutura atual. Requer mais investigação, algo que quase não investimos”. 

Percepção de insegurança permanece alta. 

A população permanece insegura diante da violência urbana. O percentual de pessoas que acreditam poder ser assaltadas é, em sua maioria, superior à taxa de vitimização nos estados. Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo são os estados em que esse temor é maior. Algumas ocorrências contribuem para que essa percepção se mantenha elevada: no Rio de Janeiro, por exemplo, 34% dos entrevistados afirmam que houve troca de tiros nas redondezas do domicílio, enquanto 7% dizem que houve extorsão ou cobrança de taxa ilegal nos arredores em que residem. No Distrito Federal, 20% dos entrevistados alegam ter medo de serem assassinados.

Ricardo Moura é Consultor para o Nordeste na Rede de Observatórios*

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