Rede de Observatórios de Segurança

Narcotráfico causa turbulência na região amazônica

event 10 de agosto de 2023

Por Lucas Patrick*

A Amazônia rica em diversos aspectos, o maior patrimônio natural do Brasil, vive dias turbulentos. A constante presença de organizações criminosas na região tem criado dinâmicas socioambientais distintas e perigosas, colocando em risco populações e o meio ambiente.

No Estado do Pará – principalmente nos municípios de Altamira, Marabá, Parauapebas, Jacareacanga e Floresta Araguaia –, facções locais têm se aliado a grupos tradicionais do Sudeste do Brasil, por meio da triagem dentro dos presídios. Organizações criminosas, como Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), debutam no contrabando de matéria-prima e estabelecem a rota do tráfico internacional de drogas. 

O interesse dessas facções não é por acaso. A Amazônia é rica em aspectos ambientais, econômicos e sociais. Essa região tem a maior bacia hidrográfica do planeta, com cerca de 25 mil quilômetros de rios navegáveis. A área abrange seis países: Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela. No território nacional, alcança os estados do Amazonas, Acre, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão, Goiás e Tocantins. 

Sua enorme extensão territorial, mata fechada, inúmeros rios com acesso a diversos lugares e pouca fiscalização estatal, consolidam a região como rota estratégica criminosa. Todo esse contexto tem facilitado a circulação de drogas, como cocaína, vinda do Peru, e a maconha (Skank), da Colômbia, permitindo a fluidez sem maiores problemas e alcançando os pontos principais de distribuição e consumo no Brasil.

Para além de consolidar práticas que já os caracterizam, os criminosos expandiram seus tentáculos para a exploração ilegal de madeira, contrabando de manganês, cassiterita, grilagem e aliaram-se ao garimpo para avançar sobre terras indígenas, como a Rede de Observatórios mostrou no relatório Além da Floresta: crimes socioambientais nas periferias.

Atualmente, o caminho usado para o transporte de cocaína é o mesmo utilizado para o contrabando de insumos ambientais, e por vezes viajam no mesmo transporte e com os mesmos destinos: Europa, África e Ásia. O porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA), tem sido o principal ponto de ligação entre as fronteiras. E o controle dessa logística passa pelo PCC, pelo CV e pela Família do Norte (FDN), grupos que disputam o mercado de drogas nacionalmente.

No centro desse caos estão as populações regionais. Povos tradicionais, indígenas e quilombolas estão sob constante risco, além de verem o meio ambiente sucumbir diante dos olhos. A ineficácia na fiscalização e proteção torna o cenário favorável para ações predatórias do tráfico, além de subjugar populações, torná-las mão de obra ilegal e mercado consumidor de entorpecentes. 

A região Amazônica apresenta uma política neoliberal com tentativa de legitimar um modelo econômico que visa o lucro, mesmo que leve à destruição da natureza. O vazio do legado de Bolsonaro intensifica o fortalecimento das redes criminosas, principalmente pela precarização dos órgãos competentes de fiscalização e pela redução de investimentos. O desafio diante de nós é eliminar essa conjuntura e construir uma que nos permita avançar em direção à preservação e sobrevivência.

Lucas Patrick é pesquisador do Observatório do Pará.*

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *