Rede de Observatórios de Segurança

Rede registra um caso de violência a cada 33 minutos

event 22 de julho de 2021
  • 57% dos 31.535 registros de violência em dois anos são ações policiais  
  • RJ teve 8 ações policiais por dia em 2021, mesmo com proibição do STF 
  • Bahia tem a polícia mais letal do Nordeste e é o segundo estado em chacinas
  • PE dobrou o número de ações policiais e tem maior taxa de violência contra crianças
  • Ceará lidera a taxa de violência LGBTQIA+, dados oficiais não são divulgados
  • SP é o estado com mais casos de violência contra mulher e tem alta de estupros este ano
  • Rede começa a operar em dois novos estados em agosto: Maranhão e Piauí

Ações policiais, eventos com armas letais e violência contra mulher são os maiores registros da Rede de Observatórios da Segurança nos seus dois anos de existência nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. É o que mostra o relatório A vida resiste: além dos dados da violência que será lançado nesta quinta-feira, dia 22. A publicação traz detalhes dos 31.535 eventos violentos monitorados – o equivalente a um caso a cada 33 minutos. O  monitoramento é feito a partir do que circula nos meios de comunicação e nas redes sociais sobre violência e segurança e equivale ao período de junho de 2019 até maio de 2021.
A Rede foi a primeira iniciativa a monitorar operações policiais e nasceu como uma forma de responder aos problemas de falta de transparência e de abertura de dados sobre criminalidade e violência. Ao todo, temos 18.037 registros de ações policiais em dois anos. Nos primeiros cinco meses de 2021, houve aumento generalizado no número de eventos monitorados pela Rede. Houve aumentos de 13% no número de ações de policiamento, de 6% nos eventos envolvendo armas de fogo e aumento de 26% no número de casos de violência contra a mulher e feminicídios. Pernambuco foi o estado que registrou o maior aumento de casos (77%), seguido de São Paulo (39%) e Rio de Janeiro (23%).

São 16 indicadores monitorados e tradicionalmente ações policiais e eventos com armas de fogo ocupam a maior parte do noticiário policial.  Mas o feminicídio e a violência contra a mulher – o terceiro maior dado monitorado na Rede – vem ganhando espaço no noticiário. A imprensa passou a nomear o problema.  As pesquisadoras da Rede de Observatórios conferem diariamente dezenas de veículos de imprensa, coletam informações e alimentam um banco de dados que posteriormente é revisado e consolidado. 

A Rede surgiu para suprir a ausência ou omissão do Estado em produzir e divulgar amplamente dados confiáveis e de qualidade para que políticas públicas sejam avaliadas. Desenvolvemos parceria com movimentos sociais e por isso assinam textos no relatório #AVidaResiste os grupos: Labjaca, Juventude Ativista de Cajazeiras, Mães pela Diversidade, Marcha das Mulheres Negras de São Paulo e Comunidade Assumindo Suas Crianças. Esses dois anos de existência mostraram que a sociedade civil não pode deixar de produzir dados. 

Bahia tem maior número de chacinas e letalidade policial no NE

A Bahia registra o maior número de mortes em operações (461) com a polícia mais letal do Nordeste. O estado também lidera o número de chacinas na região com 74 casos e no quadro geral perde apenas para o Rio de Janeiro que registrou 92 chacinas. 

Dentre os estados da Rede de Observatórios, a Bahia é o que possui a maior porcentagem de operações policiais motivadas pela repressão ao tráfico de drogas: foram 824, que equivalem a 36% do total de ações entre junho de 2019 e maio de 2021. A polícia militar é a principal força envolvida. 

Ceará apresenta maior taxa de violência LGBT+

O Ceará chama atenção pela taxa de casos de violência contra LGBT, são 50 registros com 6 casos por milhão de habitantes. Enquanto São Paulo, com  81 registros, tem 2 casos por milhão de habitantes. Vale lembrar que o estado não apresentou esses dados para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e que observamos que esse tipo de violência chega cada vez mais cedo para as vítimas. Como aconteceu com Keron Ravach, de apenas 13 anos, que se tornou a adolescente trans mais nova a ser assassinada no estado.

Ceará apresenta a maior taxa de violência LGBTQIA+ entre os cinco estado. Foto: Arthur Souza

Outro fator importante é que o estado também lidera o número de registros de ações e ataques de grupos criminais dentre os estados monitorados pela Rede. Foram registrados 155 eventos, enquanto o segundo estado com mais eventos desse indicador, a Bahia, teve 23 registros.

Pernambuco é o estado mais perigoso para os jovens

Pernambuco se mostrou o estado mais perigoso para ser jovem, liderando o número de homicídios de pessoas até 18 anos entre os cinco estados. Também é importante destacarmos o aumento de 78% de casos de abuso sexual de crianças e adolescentes no segundo semestre de 2020. O contexto de pandemia foi um fator que contribuiu para a elevação dos eventos, tendo em vista que essas crianças e adolescentes passaram a ficar mais tempo dentro de casa 

Outro ponto de destaque são os eventos de linchamento liderados pelo estado. São 56 registros em dois anos. Na maioria dos casos não há informações sobre a vítima. Mas nos 25 casos que possuem informação, em 21 as vítimas são pessoas negras.

Rio de Janeiro

No Rio, foram 5.617 ações da polícia, com 856 mortes e 727 feridos. Só em 2021, o estado registrou oito operações por dia – mesmo com a vigência da proibição do STF, com 189 mortes nas operações monitoradas.  O estado lidera o número de chacinas com 92 registros e 388 vítimas fatais em dois anos – entre elas está registrada a chacina do Jacarezinho, a maior chacina policial da história do estado. 

Ainda no estado, 388 agentes foram vitimados e 130 mortos. Chama atenção o fato de que mais da metade dos policiais foram vitimados fora de serviço. Outro ponto é a falta de informação racial desses policiais mortos em todos os estados, 86% deles não têm a cor informada. O que mostra a indiferença entre cor e raça das vítimas.

Chacina do Jacarezinho foi a maior chacina policial do estado do Rio de Janeiro. Foto: Bruno Itan

 

São Paulo 

São Paulo concentra a maior parte dos registros da Rede e quase metade dos eventos de feminicídio e violência contra a mulher são no estado, que lidera o indicador com 1.375 registros. Neste ano, além de um aumento de 67% de registros, também houve um aumento de 44% nos registros na categoria violência de sexual. Em 2021, 373 mulheres foram vítimas de violência no estado. Sabemos que esses números são subnotificados, pois os nossos dados se baseiam no que é publicado na imprensa e nem todos os casos chegam aos jornais. 

O estado apresenta o maior número de ações policiais (6.184) e o maior registro de abuso de agentes do estado. No segundo semestre de 2020, apenas em São Paulo,  as agressões por parte dos agentes aumentaram em 156%; 

Novos Observatórios

Após dois anos operando na produção cidadã de dados em cinco estados, a Rede de Observatórios,  projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com apoio da Fundação Ford, chega ao Maranhão e ao Piauí no segundo semestre deste ano. A Rede de Estudos Periféricos, da UFMA e IFMA, e o Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens, da UFPI se unem a Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD); Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop); Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC) e ao Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP). O objetivo é monitorar e difundir informações sobre segurança pública, violência e direitos humanos. 

Leia o relatório completo neste link.

 

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