Redes impulsionam pânico nas escolas
Por Ricardo Moura*
Lidar com segurança pública é lidar com a sensação de proteção, um sentimento que nem sempre se ampara em questões objetivas. A violência nas escolas atingiu um patamar simbólico de situação fora de controle, embora não se possa dizer que as unidades escolares estejam verdadeiramente em risco.
Boatos, ameaças e apreensões se sucedem afetando o cotidiano de alunos, professores e pais. A impressão é de que vivemos um delírio coletivo alimentado pelo pânico de que os casos ocorridos recentemente voltem a se repetir.
Diversas ocorrências foram registradas nos estados do Nordeste que compõem a Rede de Observatórios da Segurança. Em Pernambuco, três jovens foram presos por, supostamente, planejar um ataque a uma escola na cidade de Barreiros. Com eles foram encontradas uma espingarda e facas. No Piauí, a Delegacia de Repressão e Combate aos Crimes de Informática (DRCI) cumpriu mandado de busca e apreensão contra dois adolescentes, de 12 e 14 anos, acusados pela autoria de mensagens com ameaças contra uma escola em Teresina.
Na Bahia, em 48 horas, nove adolescentes foram apreendidos suspeitos de propagação de ameaças de ataques contra escolas. No município de Farias Brito, no Ceará, um adolescente lesionou à faca duas crianças de nove anos em uma escola localizada na zona rural. Não há informações se a ação teria sido planejada ou anunciada via internet.
Combate à desinformação
Discernir o que se trata de uma ameaça concreta de falsos alarmes é tarefa árdua. Omitir-se em relação a isso pode resultar em novas vítimas. Gerir o pânico social é tarefa das autoridades e de toda a sociedade. Quanto mais informações confiáveis forem repassadas sobre o assunto, melhor.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que o governo federal exigirá que as plataformas digitais criem canais abertos e ágeis para atender solicitações das autoridades policiais sobre conteúdos contendo apologia à violência e ameaças a escolas nas redes sociais.
“Estamos vendo o pânico sendo instalado nas escolas e nas famílias e não identificamos ainda a proporcionalidade de reação das plataformas com essa epidemia de violência que ameaça o ambiente escolar nesse momento”, disse o ministro em coletiva.
Tais medidas podem ajudar a estancar, em um primeiro momento, essa onda de ameaças e ataques, aumentando a sensação de segurança em torno da comunidade escolar. Contudo, os elementos subjetivos e objetivos que mobilizam adolescentes e jovens a praticar tais atentados precisam ser objetos de uma ação coordenada e sistemática por parte do poder público, com apoio da sociedade civil.
Sem que isso ocorra, iremos permanecer reféns do medo e das soluções fáceis propostas, justamente, por quem mais contribuiu para que chegássemos a esse cenário desolador: a extrema-direita.
Ricardo Moura é consultor para o Nordeste na Rede de Observatórios*