Rede de Observatórios de Segurança

Um ano da chacina do jacarezinho: Cláudio Castro usa favela como capital político

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event 6 de maio de 2022

Por Pedro Paulo da Silva*

 O dia 6 de maio de 2021 é central para entender como o Jacarezinho se tornou a ‘favela-foco’ no presente. Foi nesse dia que ocorreu a maior chacina policial realizada pelo Estado do Rio de Janeiro, com 28 pessoas mortas. A notoriedade nacional e internacional dada à chacina policial, tanto por ser a mais letal da história do estado, quanto pela brutalidade de mortes, gerou críticas ao governo Cláudio Castro –  que só existe pelo impeachment de Wilson Witzel. A tentativa de reeleição em outubro desse ano faz com que o Jacarezinho se torne o ‘foco’ de Castro, porque a Chacina do Jacarezinho é o evento mais marcante do estado nos últimos anos. 

Em 2007, vimos o Alemão ser invadido e ocupado por policiais/militares, sete anos depois o mesmo aconteceria com a Maré, em onze anos na Vila Kennedy e, atualmente, o Jacarezinho é submetido ao mesmo processo. Por razões diferentes, cada uma dessas favelas foi/é considerada o ‘foco’ principal de intervenção policial/militar em dado momento. Dito de outra maneira, muda a favela e mudam as justificativas, mas existe uma continuidade nessa estratégia e nas práticas que ela possibilita.

É nessa conjuntura que o programa Cidade Integrada emerge como estratégia para o governo responsável pela Chacina do Jacarezinho mostrar que pode realizar algo além de comandar um massacre internacionalmente reconhecido e rechaçado pela brutalidade. No âmbito do Cidade Integrada, o governo Castro ocupou o Jacarezinho a pouco mais de cem dias com a narrativa de implementar serviços públicos de qualidade como acesso ao saneamento básico, lazer, e educação. 

Mas apesar das particularidades históricas e políticas do país e do estado do Rio de Janeiro, as práticas usadas para lidar com a ‘favela-foco’ continuam as mesmas: a invasão e ocupação do território por forças policiais/militares, no caso as tropas do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar; a entrada ilegal em domicílios, inclusive com depredação e furto em casas de moradores; agressões físicas em moradores; e, por fim, homicídios.

Se nos perguntarmos o que mudou no Jacarezinho um ano após a chacina e cem dias depois da implementação do Cidade Integrada, diria para vermos os exemplos históricos do que foi transformado em outras ‘favelas-foco’ no longo-prazo: nada. Durante o período que cada favela fica em foco cresce a violência estatal, mas direitos continuam sendo negados mesmo que a narrativa oficial seja de que “retomar o território” é primordial para implementação de políticas públicas.

É preciso quebrar o ciclo de produção de ‘favelas-foco’: compreender que ocasionar uma mudança concreta para a população favelada só ocorrerá com uma nova política de drogas que repare violações de direitos acontecidas desde o início da “guerra às drogas”; e desarticular a ideia de segurança pública como sinônimo de policiamento, por exemplo, através da compreensão de que recursos investidos nas polícias seriam melhor utilizados com políticas realmente preventivas como acesso à educação pública de qualidade.

*Pedro Paulo é pesquisador da Rede de Observatórios da Segurança e do LabJaca

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