Rede de Observatórios de Segurança

Crise de segurança em São Luís coloca periferia como espaço do inimigo

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event 4 de novembro de 2021

Thiago Brandão Lopes*
Luiz Eduardo Silva*

Imagens que circularam em redes sociais no dia 21 de outubro mostram o momento em que pessoas corriam amedrontadas buscando esconderijo no bairro da Alemanha, em São Luís – MA, enquanto é possível ouvir rajadas de tiros. Nesta mesma noite em que o vídeo foi gravado, um homem identificado como Paulo Rogério Nogueira da Silva, de 27 anos, foi morto a tiros no bairro, quando estava na porta de casa com a mulher e o filho. Outras oito pessoas foram mortas em um período de quatro horas nas periferias dos municípios de São Luís e São José do Ribamar – uma criança de 12 anos ficou ferida.

Segundo relatos, homens encapuzados e armados em carros e motocicletas pretas atiraram contra as vítimas. Nesta noite de terror foram registradas tentativas de homicídios e homicídios nos bairros da Alemanha, Vila Conceição, no Alto do Turu, no bairro Cidade Olímpica e no bairro Parque Jair, onde uma chacina deixou três mortos. 

Há denúncias que as nove mortes que ocorreram nestes bairros podem ter sido realizadas por grupos de extermínio, e ocorreram (por coincidência?), no mesmo dia em que o secretário de segurança do estado do Maranhão, Jefferson Portela, em uma entrevista para uma rádio maranhense afirmou: “Se houver confronto, o bandido do lado de lá tem que tombar”. O secretário disse ainda que a polícia iria “dar uma resposta dura” contra os “bandidos”. As declarações ocorreram após três agentes do estado terem sido executados. As três mortes estão sendo investigadas, inicialmente, como latrocínio. 

Em vista dos acontecimentos que sucederam a entrevista do secretário, o deputado estadual Yglésio Moyses (PROS), em suas redes sociais, afirmou que o estado autorizou que grupos de extermínio entrassem nas periferias e promovessem o terror a moradores, que foram executados, feridos e humilhados. 

 No dia seguinte as mortes na periferia da ilha, uma operação foi realizada em São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. Nomeada de “Ilha Segura”, a ação contou com a participação de mais de 200 policiais militares e com o apoio da Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, levando ainda mais violência aos locais.

Em São Luís, a violência é sempre a  resposta para momentos de crise na segurança.  Os agentes encaram uma rotina de guerra. Essa prática não acarreta em nenhuma ruptura na evolução de crimes, pelo contrário, gera paradigmas de governo e insegurança social, principalmente em territórios onde essas operações são realizadas. 

Os corpos vítimas da letalidade da guerra, são sempre os mesmos corpos, negros e pobres. Os corpos periféricos, concebidos como lugar onde a autoridade ou suas forças paramilitares confirme seu poder através da dor. A política de segurança do Maranhão, neste sentido, parece não se diferenciar em nada de políticas que vêm sendo realizadas em outros estados e que são mesmo utilizadas como propaganda de políticos conservadores que veem na repressão aos pobres a solução para o problema da segurança. As vidas que foram tiradas em uma única noite e que trouxeram traumas a várias famílias não podem ser ignoradas, sob pena das periferias do estado se transformarem de vez em campos habitados por sujeitos matáveis. 

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