Rede de Observatórios de Segurança

A complexidade da expansão de facções no Pará

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event 6 de abril de 2023

Por Wellerson Soares*

Parte 2 do texto publicado originalmente na newsletter da Rede. Clique aqui.

Em busca de expansão no território brasileiro, as duas maiores facções do país chegaram à região amazônica. O PCC e o CV estabeleceram suas relações no norte por meio da criação de células criminosas com grupos menores locais. O Primeiro Comando da Capital está estruturado no estado desde 2006 e tem bastante influência dentro do sistema prisional e atua mais no interior. Seu principal aliado é o Comando Classe A (CCA), também conhecido pela sigla 331, que surgiu em Altamira, onde ainda é tida como muito forte. O CCA ficou conhecido no cenário nacional ao promover o massacre de 62 presos, 16 deles decapitados, supostamente ligados ao CV, em julho de 2019. Segundo o site Carta Capital, desde 2018 o PCC passou a fazer escolta armada de empresários ligados ao garimpo ilegal por compartilharem as mesmas rotas geográficas do crime

“Descobrimos que as rotas utilizadas pelo tráfico de drogas são as mesmas do contrabando de madeira e minério, como, por exemplo, o Porto de Barcarena, no Pará, onde escoam esses produtos para países como Bélgica, Noruega, Espanha e Luxemburgo, e onde também ocorrem constantes apreensões da PF”, disse o pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e coordenador do Observatório do Pará, Aiala Colares, em entrevista à Carta Capital.

Já o Comando Vermelho foi detectado em 2009 e, atualmente, é a principal facção do estado, com predominância na Região Metropolitana de Belém. Tem aliança com facções menores mas com grande influência em unidades prisionais, como a Equipe Rex, estabelecida no bairro Terra Firme, na periferia da capital, e a Equipe Real, influente em Ananindeua. 

Mas há ainda no Pará facções locais como a do Cartel do Norte. O Grupo nasceu da união entre membros insatisfeitos do CV e os últimos remanescentes da Família do Norte, dizimada após confrontos sangrentos com a organização criminosa do Rio de Janeiro, em 2020. Por fim, também está presente no estado o Bonde dos 40 que surgiu na região Nordeste, em 2007.

 

Os impactos são desastrosos

A atuação dos grupos criminosos tem se refletido no dia a dia da população. Foram 2.274 mortes violentas em todo o estado em 2022, média de 6 vítimas por dia. É o que mostra o índice nacional de assassinatos criado pelo site g1. O estado apresentou índice de mortes proporcional à população acima da média nacional. Enquanto o país registrou 19,1, o Pará o número foi de 25,9 vítimas a cada 100 mil habitantes. 

Ao lado de Mato Grosso, foi líder em perda de floresta para mineração e garimpo ilegal, com 113.777 hectares de vegetação afetados. Quatro dos cinco municípios brasileiros com maior área garimpeira ficam no Pará: Itaituba (57.215 hectares), Jacareacanga (15.265 hectares), São Félix do Xingu (8.126 hectares) e Ourilândia do Norte (7.642 hectares). Os dados são do MapBiomas. 

Além disso, a entrada de integrantes de facções criminosas nas áreas de garimpo vem configurando uma nova dinâmica dos crimes ambientais na região e tem se mostrado uma ameaça ao ecossistema amazônico. Segundo Aiala Colares, no território dos Povos Munduruku, na região do Tapajós, o garimpo ilegal avança em direção aos sítios arqueológicos, alguns ainda nem catalogados, e a áreas sagradas para os povos indígenas. 

Para o coordenador do Observatório do Pará, é necessário que o poder público tenha um olhar de inteligência e cooperação entre os estados. Ele também ressaltou a importância de diálogo com os países da região amazônica para compreender a complexidade que se estabelece no território. 

“O poder público tem que entender que há uma interação entre grupos criminosos de vários estados, que se conectam e criam um intercâmbio. Por isso, o serviço de cooperação entre as polícias é extremamente importante. Além disso, é preciso ter uma compreensão, sobretudo do Governo Federal, da União, das forças de segurança da União de estabelecer um diálogo por meio do tratado de cooperação dos países da Amazônia. Todos enfrentam problemas comuns de segurança pública, principalmente com a presença de facções ligadas ao narcotráfico”, disse o coordenador.

Wellerson Soares é jornalista na Rede de Observatórios

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