Rede de Observatórios de Segurança

A segurança do ambiente escolar como política pública

event 4 de abril de 2023

Por Wellerson Soares*

O ambiente escolar tornou-se pauta na última semana e colocou em discussão as dinâmicas em salas de aula, as motivações para os recentes ataques e como garantir a segurança de alunos e professores nos espaços de educação. No fim de março, três eventos envolvendo armas brancas, em três estados, agitaram o noticiário. Desde o massacre na escola em Realengo (RJ), há 11 anos, pelo menos 12 escolas foram cenário deste tipo de tragédia. 

Entre os eventos recentes, o caso na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, Zona Oeste de São Paulo, foi o único com vítima fatal. A professora de Ciência, Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, foi golpeada nas costas pelo adolescente de 13 anos. Além dela, outras cinco pessoas ficaram feridas. O ataque teria sido motivado por ofensas raciais por parte do jovem agressor, que já tinha histórico de ameaças em uma escola anterior. 

No dia seguinte, estado diferente, porém a mesma motivação. No Rio de Janeiro, um adolescente de 15 anos tentou esfaquear colegas e foi contido por alunos e funcionários da  Escola Municipal Manoel Cícero, na Zona Sul carioca. As investigações da polícia também dão conta de motivação racial para o ataque, pois contra o jovem havia um registro na 14ª DP (Leblon) por injúria racial contra um professor.

Já no Ceará, pais retiraram os filhos de uma escola pública na cidade de Crato, após uma faca ter sido encontrada em uma lixeira da unidade. A Secretaria da Educação do estado não confirmou a informação de que um dos alunos estaria de posse do objeto.

 

Casos emblemáticos

A violência no ambiente escolar tem marcado o Brasil desde o massacre na Escola Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do Rio, em abril de 2011. De lá para cá, outros casos também ganharam grande repercussão e chocaram o país, como o ataque de dois ex-alunos a escola Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), que resultou na morte de oito pessoas, e o incidente na Escola Professora Carmosina, em Sobral (CE), em que um aluno atirou em três estudantes com uma arma que pertencia a um CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador).

Os atentados ao longo dos anos, porém, parecem não ter gerado a mobilização necessária do poder público na busca por soluções e criação de medidas preventivas e de conscientização sobre o problema. É o que aponta o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo em nota publicada após o ataque na escola da Vila Sônia. A instituição disse que cobra há anos medidas do governo do estado para a redução da violência no ambiente escolar. A instituição também criticou o abandono de projetos voltados para harmonia e bem-estar nas escolas. 

A crítica ao bem-estar no ambiente escolar também está presente nas falas do adolescente autor do ataque à escola Thomazia Montoro. Em depoimento, ele afirmou que vinha sofrendo bullying por parte de colegas e por isso desenvolveu o desejo de vingança. 

Mais de 40% dos estudantes adolescentes admitiram já ter sofrido bullying, provocação e intimidação no ambiente escolar, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar,  do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, de acordo com a Polícia Civil, são quase diárias as ocorrências envolvendo violência entre estudantes.

Enquanto houver descaso na condução de políticas de prevenção e conscientização sobre a violência no ambiente escolar, o cenário vai ser de crescimento no número de casos. Há necessidade da criação de programas voltados à saúde mental e de apoio a alunos, professores e comunidade escolar.

Wellerson Soares é jornalista na Rede de Observatórios*

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